Geração Facebook
“Os jovens, sem camisa e com
os rostos pintados saem às ruas, com paus e pedras nas mãos, gritam palavras de
ordem, carregam faixas e se confrontam com a polícia. Alguns batem enquanto
outros apanham, mas, firmes e resolutos seguem decididos e convictos de que
estão lutando pelo que acreditam e isto é o correto.”
Essa
seria a introdução que usaria para descrever a juventude brasileira das décadas
de 70, 80 e 90, a geração que entrou para a história ao derrubar a Ditadura
Militar e logo em seguida “conquistou o Bi” ao derrubar Collor, no que foi até
hoje, passados longínquos vinte anos e dezenas de escândalos de corrupção
maiores, o mais forte golpe na tradicional corrupção política brasileira.
Infelizmente
a geração atual não herdou nada da coragem e bravura de seus pais, enquanto
aqueles colocaram a “cara” nas ruas e fez a revolução, estes não querem nada
mais do que o bom e velho sossego de casa ou do trabalho. Não diria que a
geração atual não seja politizada, muito ao contrário, penso até que seja mais
politizada do que a Geração do Enta (dos anos setenta, oitenta
e noventa). O que falta aos de
agora é a pura e simples ação. Hoje, qualquer um tem um belo discurso,
condenando a corrupção, exaltando a ética, criticando o governo e propondo uma
nova atitude política, mas não passa disso; acaba-se o discurso vai-se o
revolucionário.
Nos
últimos anos o cenário político brasileiro foi bombardeado pelos mais cabeludos
casos de corrupção e desvios de recursos públicos, que conseguiram fazer de Collor
apenas uma piranha nadando num mar de tubarões.
E
os filhos dos verdadeiros revolucionários? O que fizeram?
Os
filhos dos verdadeiros revolucionários não fizeram nada, a bem da verdade,
penso até que nem sabiam o que fazer. Eram apenas uma geração preocupada em ser
aprovada no vestibular, conseguir uma vaga num concurso público e saber o que iriai
acontecer no próximo capítulo de Malhação.
Mas
agora tudo mudou, temos uma geração politizada, participativa e revolucionária.
Nenhuma atitude política mal intencionada ou escandalosa passa despercebida a
esses revolucionários do Século XXI, a política e os rumos da sociedade
contemporânea são calorosamente debatidos e não raro, polemizados. Pena que
todo esse engajamento político esteja resumido na Linha do Tempo das redes
sociais.
Sim,
estamos vendo a Geração Facebook se levantar. Cada dia mais vemos os novos revolucionários
lançarem seus manifestos na rede, cheios de palavras abreviadas e erros de
ortografia, querem fazer a “Revolução”, sonham em mudar a cara e a prática da
política nacional, em reformar a educação e valorizar o professor, apesar de
serem assíduos cabuladores de aula; são defensores calorosos dos Direitos
Humanos; fazem chatíssimas correntes compartilhando imagens de animais
maltratados dizendo serem defensores dos bichos; compartilham trechos dos
clássicos universais que nunca leram; citam Shakespeare, embora não tenham lido
nada além de Romeu e Julieta; amam livros e literatura, apesar de só lerem a
Saga Crepúsculo.
São
politizados, e mais do que isso, são informados, estão a par do que acontece no
mundo todo e em especial, no nosso país. Seus discursos, tirando os erros de
Gramática, são profundos e refletem relativo conhecimento de causa. Mas ainda
não perceberam que os dedos ágeis nos teclados de seus computadores e
smartphones não produzem nada mais do que o blábláblá silencioso e vazio dos
seus comentários. Atrás dos monitores se dizem ativistas, embora não tenham
coragem de levantar da cadeira e dobrar o edredom da cama em que dorme.
As
redes sociais inauguraram o ativismo dos inativos, carregados de teoria
política e vazios da prática, dos que não sabem o que é um Grêmio Escolar ou
uma União de Estudantes; dos que pregam engajamento e não participam nem do
coral da igreja e daqueles que defendem o Meio Ambiente e jogam a garrafa de
Coca Cola na rua. Enquanto estão sentados nas suas cadeiras digitando, curtindo
e compartilhando as “publicações revolucionárias”, se sentem como se estivessem
marchando nas manifestações das Diretas, enfrentando a Ditadura ou sendo um
Cara-Pintada derrubando o Collor, quando são na verdade apenas uma geração que
ainda não se encontrou, que confunde movimento com rede social, que pensa que
entrar para a história é entrar nos trending
topics.
O
famoso revolucionário argentino Che
Guevara ficou eternizado numa foto em que olha fixamente o infinito, interpretaria
aquela foto como sendo ele observando as batalhas pelas quais ainda teria que
lutar, mas, olhando fixamente além delas ele enxergava no horizonte a sua
vitória, o êxito da revolução pela qual lutava. E a Geração Facebook, como
seria a foto que melhor representaria ela? Alguém com a cabeça curvada e os
olhos cansados olhando molemente a tela brilhante de um computador?
É
preciso muito mais do que curtidas e compartilhamentos para mudar os rumos
dessa nação. Muitos se empolgam porque as redes sociais foram importantes
instrumentos para as revoluções que recentemente ocorreram no Egito, Tunísia e que
ainda acontece na Síria. Mas muitos não percebem que elas foram apenas instrumentos,
os manifestantes desses países usavam esses meios para marcar encontros e
manifestações, e não para fazerem uma revolução digital, discordar, atacar e
criticar o governo virtualmente. A revolução digital existe até a página ser
fechada ou o computador ser desligado, o mesmo não acontece com a ação.
As
redes sociais possibilitaram o grito dos calados, o inconformismo dos
conformados, a insatisfação dos satisfeitos e a preocupação daqueles que só se
preocupam com uma boa conexão de internet e uma balada para agitarem e
esquecerem por um instante que são esquecidos; possibilitaram ainda o
surgimento de uma nova atitude: a hipocrisia virtual.
0 Comentários