Depois que esta porta que agora vejo, se fechou quando você saiu, nunca mais se abriu a porta do meu coração. Vivo numa eterna noite negra, sem lua e sem estrelas.
Custou me perceber que não poderia viver sem você. Depois que você partiu, fiquei cheio de cólera e disse para mim mesmo que agora ficaria melhor, naquele momento acreditava que eu tinha tudo e que era tudo que precisava para ser feliz. A porta que você fechou para nunca mais abri-la, essa mesma porta eu abri alguns minutos depois, vestido com minha melhor roupa e cheio do mais jovem desejo de ser livre e de viver a vida com meus amigos, andando pelos lugares que eu desejasse e chegando na hora que achasse ser melhor. Dizia para todos que agora sim é que eu estava vivendo, pois fazia o que queria.
Mas era mentira, meu amor, e descobri isso quando voltei para casa, a certeza de que você não estaria me esperando tirava o desejo de voltar, ao entrar acendi a luz, mas nada me iluminou, e então não consegui mais me enganar, eu sentia sua falta, desejava te ver ali deitada no sofá, assistindo TV e tomando seu suco de maracujá. O sofá estava vazio, a TV desligada, o suco abandonado na geladeira, assim como eu estou abandonado agora, escrevendo estas linhas e sonhando que um dia você as lerá, e que nesse dia você me perdoará e voltará para mim como a ave volta para seu ninho.
Tudo o que vejo me faz lembrar você, nossa casa está impregnada do teu perfume, cada móvel e cada objeto me conta histórias que vivemos juntos. O tapete estendido sob meus pés me fala dos dias que deitávamos sobre ele e fazíamos planos para o futuro, não esse futuro que agora está estendido sobre nós, como o tapete debaixo dos meus pés, mas aquele futuro que foi amassado e lançado longe como as folhas de papel que amassávamos quando as histórias que escrevíamos à máquina não eram as que queríamos escrever. Sim, meu amor, este não é o futuro que eu quis escrever, como gostaria de amassá-lo e lançá-lo longe, para além das nossas lembranças.
Ontem fui ao parque, sentei no velho tronco onde nossos nomes estão escritos dentro daquele coração que desenhamos naquela gostosa manhã ensolarada de um domingo que se perdeu. Sentado ali, recordei dos nossos momentos, dos muitos domingos que ali ficávamos apreciando os livros que comprávamos na livraria do Seu Juvenal. Quando voltei passei pela Avenida América só para reviver aquela tarde em que a chuva nos surpreendeu, dançamos e cantamos debaixo da chuva, nos revi imitando Dançando na Chuva, que nos emocionara alguns dias antes.
Prometi para mim mesmo que não iria chorar, mas chorei, não me importo mais com minhas promessas, jurei que jamais diria que não consigo viver sem você, agora digo isso para qualquer um que me pergunte como vou, quebrei meus juramentos assim como quebrado está meu coração. Você faz tanta falta.
Quando passar por aqui venha me visitar, ainda gosto de chá de canela e de sentar na varanda e olhar as roseiras, ainda sou aquele que você sabe como fazer feliz, muitas coisas mudou, eu sei, mas eu também mudei, já consigo ver os detalhes que fazem diferença, aprendi ver diferença nos detalhes e consigo ver coisas que não se vêem.
Quando vir, a chave ainda fica naquele lugar, mas, por favor, não demore, pois, as nossas roseiras floriram...
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